JUDAS E O MESSIAS NEGRO | Daniel Kaluuya atua de forma primorosa em grande filme sobre o líder dos Panteras Negras (Crítica)
Uma das coisas mais impressionantes sobre Judas e o Messias Negro, o novo coquetel molotov de Shaka King é como essa não é realmente a história de Fred Hampton. O filme é obviamente sobre Hampton, o carismático líder do Partido dos Panteras Negras que é vívido por Daniel Kaluuya no grande papel de sua carreira. No entanto, como o título sugere, o Messias Negro dessa narrativa é observado de longe e do ponto de vista do homem que o condenou.
É um tato familiar para histórias sobre grandeza que são encurtadas em números muito grandes para compreender em um filme. Judas e o Messias Negro usa uma técnica narrativa que nunca é incômoda ou escorregadia e andar na pele de William O’Neal, o informante usado e abusado do FBI que ajudou a executar Hampton. A sua visão em duas horas de longa carregam momentos em cenas que mostram sem pudores um lado perverso contra os negros, onde o sangue ainda está fresco e qualquer aparência de justiça permanece perpetuamente fora de ser alcançada.
Como essa figura traiçoeira, LaKeith Stanfield é tão bom quanto Kaluuya, embora em um papel menos lisonjeiro. Ao calibrar cada tique involuntário e movimento tenso, Stanfield insinua uma energia nervosa que deixa toda a peça em estado de alerta. E isso é verdade mesmo antes de O’Neal se tornar um informante. Na cena de abertura do filme, Stanfield é um ladrão mesquinho com uma trapaça divertida, ele finge ser um agente do FBI e usa um distintivo falso, mas quando o agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) descobre as artimanhas dele, O’Neal acaba enfrentando algo pior do que a prisão, mesmo que demore todo o filme para descobrir.
Impressionado com os jogos de confiança de O’Neal, Mitchell coage Stanfield para se infiltrar na divisão de Illinois do Partido dos Panteras Negras como parte do COINTELPRO, uma operação secreta e ilegal para espionar e sabotar grupos políticos no qual o diretor do FBI, J. Edgar Hoover (Martin Sheen em boa atuação) considera radical. Hoover é particularmente obcecado por Hampton de Kaluuya, um socialista revolucionário que estava em processo de construção da Rainbow Coalition, que combinou o zelo do Poder Negro dos Panteras com grupos como Jovens Patriotas Brancos, baseados nos pobres caipiras que viviam nos Apalaches. Hampton conseguia criar harmonia com a dissonância. Daí porque Hoover o apelidou de “o Messias Negro” e como O’Neal acaba escoltando-o até a cruz.
Como puramente um exercício de estética, Judas e o Messias Negro é uma revelação impressionante para King, cujo trabalho anterior consistia principalmente em sitcoms. Trabalhando a partir de um roteiro que escreveu com Will Berson (e uma história dos escritores de comédia Keith e Kenneth Lucas), King mostra um olho astuto e contundente em dramas sobre fatos que aconteceram décadas atrás.
Daniel Kaluuya é absolutamente fascinante e seu fervor misturado com a ansiedade de Stanfield formam uma combinação potente. Também cabe ao par superar algumas das armadilhas do filme entre o segundo e terceiro ato, embora narrar os últimos anos da vida de Hampton, incluindo seu assassinato nas mãos da polícia, do ponto de vista do único homem que previu isso seja uma concepção intrigante, o que nunca deixa O’Neal ser um homem simpático. Stanfield equilibra a peça em uma quilha perfeita e certamente é uma figura lamentável. No entanto, quando o filme o condena, a distância entre os espectadores e Hampton torna-se muito grande no final.
Fora ainda que ocorre concessões e vislumbres fugazes da vida doméstica de Hampton, enquanto seu romance com Deborah Johnson (Dominique Fishback) recebe um aceno delicado, isso se mistura também com alguns personagens coadjuvantes que são amplamente subdesenvolvidos, com eventos cruciais ocorrendo nas lutas sociais dos Panteras Negras. Essas deficiências arrastam um pouco o terceiro ato antes que a tragédia se torne total, mas também são pequenos tropeços em uma peça vívida e persuasiva nesta grande filmagem.
King e companhia sabem muito bem a urgência de sua história e como sua descrição da história americana nos lembra que alguns momentos do passado nunca são esquecidos completamente. No geral, Judas e o Messias Negro é uma grande obra e que pode levar você às lágrimas e dar um microfone a uma voz silenciada que existe dentro de você contra um fato que continua atual e bastante intolerável.
Trailer:
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