LUA VERMELHA | Uma silenciosa e agoniante poesia visual (Critica) - 44° Mostra SP
O segundo longa-metragem de Lois Patiño, Lua Vermelha (Red Moon Tide), explora sua terra natal, a Galiza, Espanha. O diretor explora com maestria a Península Ibérica com sua beleza em cenas que focam em experiências sensoriais ao percorrer planícies reais e traduzindo-as em poesia visual.
Imenso em magnitude e alcance, Lua Vermelha (Red Moon Tide) grava vastas paisagens que determinam muito da trama e da direção do personagem. Acostumado em explorar grandes locais de mau presságio, a câmera de Patiño trabalha bem perto dos personagens para captar as interações emocionais. Tentando intencionalmente equilibrar as cenas do filme em videoarte, o longa frequentemente se torna abstrato demais para ser totalmente envolvente, contando mais com seu poder visual e auditivo para cativar os espectadores. Patiño representa espectros não vivos em lençóis brancos com camadas de metáfora onde os mitos e a poesia se divertem em uma tragédia pungente. A narrativa é bem fragmentada e o público que for buscar mais do que uma cinematografia sublime pode ficar desapontado e desconectado do filme.
O foco de Patiño é acumular imagens que se destinam em canalizar várias noções de perda. Embora vanguardista e experimental, o filme é essencialmente uma produção de imagens impressionantes. Lua Vermelha (Red Moon Tide) é uma obra de horror inconfundível, baseada em um pavor tão inefável que o impacto da mudança climática se torna uma espécie de força lovecraftiana.
O ponto central desta história assombrada é em um pescador local, Rubio (Rubio de Camelle), que se convence de que um monstro está caçando peixes próximo de sua cidade costeira, enquanto ele descobre que começa a aparecer mais e mais cadáveres humanos ao sair com seu barco todas as manhãs. No início, o barco de Rubio acaba sendo uma vítima também e o próprio homem está desaparecido, tornando-o um protagonista mais referenciado do que visto, enquanto outros cidadãos palpitam se o homem estava certo ou não enquanto eles próprios se afogam cada vez mais em um mal impregnado neles.
A cidade onde esses moradores moram é filmada em termos ainda mais nítidos do que as paisagens, evocando retratos de estagnação e alienação. Os atores não profissionais estão dispostos como manequins e frequentemente distanciados uns dos outros e muitas vezes olhando em direções opostas. As pessoas raramente falam em voz alta, em vez disso fervilham silenciosamente em monólogos internos ouvidos em vozes sombrias nas quais contemplam o monstro, conferindo-lhe propriedades mitológicas, como ter seus comportamentos ditados pelo aumento e diminuição da lua.
A mitologia é um elemento crucial do longa, com um trio de bruxas aparecendo para ajudar na busca do desaparecido Rubio. Essas mulheres passam o resto do filme vagando pelo campo e pela cidade litorânea, geralmente as únicas pessoas em movimento no quadro. Eventualmente, as bruxas começam a enrolar os habitantes da cidade em lençóis, fazendo-os parecer fantasmas. O próprio Rubio, bem antes de aparecer na tela, torna-se uma figura involuntária que transporta os mortos em redes de pesca que revelam menos peixes do que os cadáveres que foram mortos pelo monstro, devolvendo seus corpos à terra para o enterro.
Enterradas sob este texto mítico estão as ansiedades contemporâneas sobre as mudanças climáticas que dão a Lua Vermelha (Red Moon Tide) uma lógica implícita, mas o filme está no seu melhor quando se entrega inteiramente às suas imagens hipnóticas, um trabalho impecável de Patiño que também assina fotografia.
No final, o longa se fecha com uma intensidade apocalíptica, e nos dá um clímax com o monstro que está à espreita de uma sensação de encontro com o destino, da criatura encarnando a autodestruição acelerada do homem diante da natureza que reclama sua supremacia.
*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/
Trailer:
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