MISS MARX | Um toque feminino na visão marxista (Critica) - 44° Mostra SP
Por trás de toda grande figura masculina, sempre existe sua contraparte feminina. Isso é comprovado na ficção e vida real e a sétima arte no geral adora expor esses dois lados. Todo mundo já ouviu falar de Karl Marx, mas poucos sabem que existe a Miss Marx. Para os que a conheceram, ela é simplesmente Eleanor Marx, a filha mais nova de Karl Marx, mas seus amigos mais próximos também conheceram sua identidade secreta: Tussy.
Sua superpotência é a visão de Marx, que lhe permite ver o mundo não como ele é, mas como deveria ser, ou pelo menos como ela gostaria que fosse, mais justo e mais socialista. Seu objetivo é alargar o horizonte da luta de classes para as mulheres, crianças, os pobres e a luta para derrubar o patriarcado junto com o capitalismo.
A diretora Susanna Nicchiarelli comanda o longa com um olhar para o alvorecer do socialismo e não tem medo de trilhar o caminho estreito dos filmes de época com constrangimentos e clichês, a diretora ataca a situação contando com uma mise-en-scène que brilha na riqueza de um cenário que beira o decorativismo. Enfatizado pelas inúmeras tomadas principais que mostram o protagonista de cima no centro das cenas lotadas, cada tomada é repleta de detalhes, cores, desenhos. Livros, plantas e roupas preenchem a tela com detalhes em constante mudança que animam a atmosfera tradicional do gênero, muitas vezes monótona e empoeirada.
A história começa no dia do funeral de Marx, quando Eleanor idealmente toma seu lugar como curadora e promotora convicta da obra, e ao mesmo tempo a emancipa, envolvendo-se com Edward Aveling, um intelectual socialista brilhante, mas distraído, uma figura que representa um complicado paradoxo entre a vida privada e a batalha pública que Miss Marx pretende travar. Filha de um novo século, criada na expectativa messiânica da revolução mundial, Eleanor Marx é resoluta e obstinadamente contra o capitalismo, contra a religião, contra as convenções, contra os segredos e contra as mentiras.
Contra tudo e contra todos, ela também opta por se relacionar com um homem que às vezes parece não a respeitar, que também é teimosamente fiel a uma ideia radical de liberdade, especialmente quando pode tirar dela alguma vantagem. Com ele, Eleanor compartilha uma profunda cumplicidade intelectual, um olhar sarcástico sobre a alma humana e o orgulho de não se importar com ela. Ao mesmo tempo, ela não pode ignorar o evidente desequilíbrio na base da relação, mesmo não podendo ultrapassar adapta-se a utilizá-lo como espelho, para refletir sobre a sua sujeição pessoal e, assim, focar na condição feminina geral, que continua a ser subordinada. mesmo no paradigma revolucionário da luta de classes.
Nesses momentos, quando ele olha para os pensamentos que vai derramar em seus livros, no setor privado como em visitas a fábricas e em reuniões com trabalhadores e patrões, é óbvio o quanto as reflexões e intenções de Eleanor e Marx aderem à nossa realidade pós-industrial. Obviamente, é nesse sentido que a voz da diretora e seus esforços para aproximar de nosso espírito uma personagem que viveu há mais de um século são mais claramente compreendidos.
A narração procede de forma muito linear, seguindo a ordem cronológica normal, embora com alguns saltos temporais que acabam descontruindo alguns picos ou expondo alguns buracos que não foram desenrolados, o que torna o longa um pouco arrastado em contraste com o caminho e estilo que produção segue, mesmo assim a película se destaca com uma trilha sonora punk atraente, tão adequada que foi premiada no Festival Veneza.
Do ponto de vista geral é um filme bem feito, interessante e que vale a pena ver, muitas coisas funcionam neste filme, porém, Miss Marx deixou faltando alguma cena que expressasse a tensão de uma vida excepcional ao ter vivido próximo de um homem importante.
*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/
Trailer:
https://youtu.be/fWpfZsowWnY
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