PARI | A busca pela verdade (Crítica) - 44° Mostra SP
A fiel esposa iraniana Pari (Melika Foroutan) e seu marido, muito mais velho, Farrokh (Shahbaz Noshir) chegam a Atenas para visitar seu filho estudante Babak. Mas ele não só não está esperando para recebê-los no aeroporto, como também não mora mais no endereço que lhes deu. Equipada apenas com um inglês vacilante e determinação de mãe, a mansa Pari é forçada a sair da sombra de seu esposo para assumir a liderança e se aventurar na cidade para descobrir que ele pode não ser o menino que pensavam que era.
Começando com o que parece ser um relacionamento abusivo, o diretor e roteirista Siamak Etemadi habilmente coloca sua visão ao navegando pelas ásperas insistências do marido benfeitor interpretado por Shahbaz Noshir, já Melika Foroutan canaliza com credibilidade a preocupação de Pari, enquanto as apostas emocionais aumentam no desespero e na busca em achar o seu filho.
No entanto, conforme Pari se compromete cada vez mais com o que parece uma causa cada vez mais desesperadora, o filme aborda as tentações e ameaças enfrentadas pelos iranianos que estudam no exterior. Com muitos deles vendendo seus corpos ou almas (convertendo-se ao Cristianismo), fica mais claro que Babak deixou um caminho que nunca foi feito para ser seguido. Pari é um retrato duplo atmosférico de uma mulher que descobre profundidades e coragem até então insuspeitadas e de uma cidade instável e imprevisível que tira seus residentes de suas certezas e redes de segurança.
O longa acaba se tornando em um retrato vívido de uma mulher que se despojou de tudo o que pensava e o principal trunfo vai para uma atuação hipnotizante de Foroutan. Sua performance expressiva é um elemento fundamental em um filme que pisca entre o realismo, o simbolismo e o lirismo e vice-versa. Infelizmente o longa acaba pecando ao abusar de alguns flashbacks com as memórias repetidas de Pari e a conclusão do filme dá um salto na narrativa e acaba levando em conta a emancipação da personagem principal.
No geral, Pari é um drama envolvente que revela suas verdadeiras profundezas enquanto seguimos até onde uma mãe irá para recuperar seu filho. Um drama que não tem medo de tocar na cultura masculina dominante do Irã ou no senso de honra infundido pela religião e traça seu próprio curso por meio de uma série desafiadora de eventos e encontros casuais, o que torna o longa uma história bem envolvente e que aborda um tema rico no qual muitos estrangeiros poderão se identificar ao migrarem para outros países.
*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/
Trailer:
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