ENTRE MORTES | Um drama denso e quase sonolento (Crítica) - 44° Mostra SP
Tudo que você precisa é amor, se você puder encontrá-lo é claro. Ou então parece ser parte da intenção às vezes malsucedida de Entre Mortes (In Between Dying), filme do jovem diretor azerbaijano Hilal Baydarov. Em uma história de amor elíptica que joga como uma fábula profética, a película derrapa em uma narrativa salpicada de momentos sacudidos de libertações violentas e uma considerável resiliência com subtextos feministas sugerindo reconsiderações culturais das normas de gênero em um destino metafórico inebriante.
Davud (Orkhan Iskandarli) é apresentado como uma figura um tanto desagradável e teimosa, seus pensamentos oniscientes sérios sobre a necessidade de sair de casa para encontrar o amor é imposto logo de cara. Como contador, os pensamentos sussurrantes de uma mulher afirmam o oposto ao personagem que precisa ficar em um lugar como um cachorro raivoso, até que o amor venha chamando.
Ele repreende sua mãe por não o alertar sobre a morte de seu pai, fazendo ele sair de sua universidade e partir em uma viagem que o colocará em contato com várias mulheres. Não muito diferente de algo que você esperaria, essas instâncias terminam com violência ou ação drástica. Uma jovem acorrentada, supostamente raivosa é solta, mordendo e matando seu pai.
Há um ar de infortúnio quase cômico que se abate sobre a busca frenética de Davud pelo amor, que ele sente ser o único propósito na vida, e que tudo é construído no amor. Essa obstinação o leva de volta ao ponto de partida, onde a chance real para o amor está na mulher que estava esperando o amor para encontrá-la. Com o dilema de “fui criada para o amor”, a moça se coloca no mesmo patamar no que diz respeito a compartilhar os mesmos ideais de Davud. Claro, é tarde demais para Davud, pois suas ações no mundo tiveram consequências, no entanto, há uma salvação fatídica em que sua jornada incorreu em várias mulheres subjugadas ao longo do caminho e que tematicamente conecta todas elas como o mesmo pedaço de pano, como se fossem atrizes de alguma tragédia grega.
Talvez o momento mais eficaz seja Ilaha (Narmin Hasanova), uma mulher cujo rosto nunca é visto e sempre em plano geral de costas para a câmera. Ela dá água a Davud, limpa suas roupas e conta a ele sua história de abuso. Continuando sua jornada, a próxima jovem que Davud se encontra faz com que o personagem seja impulsionado em seguir um caminho para decidir se ele quer mesmo viver com um grande amor, o que torna em certo momento um clímax sombrio e que indica que o verdadeiro amor para Davud possa de fato ser a Morte.
No geral, Tanto esteticamente quanto tematicamente, o filme de Baydarov explora belas paisagens oníricas e o apoio que diretor recebe de algumas celebridades, como o ator Danny Glover que é produtor-executivo do longa tornam Entre Mortes (In Between Dying) um trabalho de um diretor que futuramente pode ser uma nova voz cinematográfica inovadora, mesmo explorando uma estranha viagem que realmente exemplifica o sentimento de uma vida inteira sendo vivida em um dia.
*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/
Trailer:
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