O TREMOR | O perigo do sensacionalismo e a manipulação das fake news (Crítica) - 44° Mostra SP
Seguindo um jornalista em sua busca pela cobertura de um desastre natural, O Tremor (The Tremor) estabelece o debate um importante tema que vem circulando o mundo do jornalismo, a luta contra o sensacionalismo das fake news que podem gerar uma manchete perigosa. A estreia do diretor indiano Balaji Vembu Chelli é um procedimento de ritmo lento que eventualmente se transforma em uma sequência que raramente nos fornece um alicerce com o protagonista que carece de autoconsciência, o único poder de permanência do filme é seu olhar focado em um mundo que anseia por informações, sejam reais ou falsas.
No longa acompanhamos um fotojornalista (interpretado por Rajeev Anand) que recebe a missão de ir até uma pequena vila na Índia atingida por um terremoto, para registrar imagens da tragédia. Ansioso por ser sua primeira grande cobertura, ele chega ao lugar antes dos outros jornalistas. Lá, porém, encontra apenas locais vazios e poucas pessoas, que não sabem ou fingem não saber sobre o terremoto. O fotógrafo passa a explorar a região das montanhas em busca do desastre, e, à medida em que o mistério aumenta, a neblina que ele enfrenta fica cada vez mais densa.
Atravessando uma bela paisagem montanhosa (lindamente capturada por Vedaraman Sankaran), o longa explora sem nenhuma noção real sobre para onde está indo o protagonista e como ele chegará no local para registrar a possível catástrofe. Ele é deixado por conta própria enquanto segue os veículos e questiona os moradores na esperança de encontrar o local do desastre e durante toda esse desenvolvimento temos a trilha sonora de Maarten Visser, que amplifica a melancolia e a destruição que fotojornalista vai encontrando. É um envolvimento arrepiante das diferentes maneiras como as pessoas estão envolvidas em uma tragédia dessa escala e isso é o que constitui a maior parte de O Tremor (The Tremor). Enquanto o diretor tenta transmitir a linha entre fato e ficção em um mundo cada vez mais consumido pelas fake news, o protagonista corre para um beco sem saída e o filme lentamente revela sua mensagem em tom de uma sátira escondida sob a investigação de um fato inexistente.
Essencialmente dividido em duas metades tonalmente diferentes, há uma qualidade admirável em como Balaji Vembu Chelli desembrulha tudo. Cada vez mais irado com o passar do dia, a atuação de Anand como o fotojornalista desesperado por uma grande história acaba sendo instigante e a medida que o filme se abala, assim como um tremor, há uma dependência do personagem principal para encontrar algo em que se agarrar ou toda a sua perseguição terá sido em vão. É aqui que o filme mais luta para se manter interessante. É um curta-metragem (com 70 minutos de duração), mas uma vez que o filme começa a enfatizar o seu ponto principal e quais informações são reais e quais não são e a única coisa que resta ao filme é explorar o desejo por algo sensacionalista.
No geral, O Tremor (The Tremor) trabalha de maneira interessante ao usar as técnicas do cinema em demonstrar como é fácil fazer nada parecer substancial. A primeira metade do filme consiste em planos gerais do personagem de Anand se fixando em qualquer coisa que se destaque, da mesma forma que o público faz quando assiste a filmes de terror, onde o que importa são as pequenas ocorrências dentro da cena. Acima disso está uma partitura que enfatiza a urgência e dramatiza cada momento de busca, mesmo quando o que está sendo provado como resultado é apenas um pequeno pedaço de informação.
*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/
Trailer:
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