MOSQUITO | Perdido no zumbido da 1° Guerra Mundial (Crítica) - 44° Mostra SP
Após o sucesso estrondoso do longa dirigido por Sam Mendes, o ano de 1917 está em volta em uma obra bastante rica e chamada Mosquito, filme comandado pelo português João Nuno Pinto, e que conta a história de seu avô paterno, Zacarias (vivido de forma bastante competente por João Nunes Monteiro), que se alistou aos 17 anos com o sonho de ir combater a França na 1ª Guerra Mundial, mas acabou sendo encaminhado para um barco rumo a Moçambique para defender a colônia portuguesa das tropas alemãs.
Esteticamente e narrativamente a obra de João Nuno Pinto explora o lado anticolonialista e antibelicista com um soldado (Zacarias) que depois de ficar doente, é abandonado pela sua companhia e terá de atravessar o Moçambique para encontrar a tropa. Embora exista algum didatismo em contar a luta dos portugueses na luta contra os alemães na África, Mosquito tem como foco a inocência de um jovem agarrado às ilusões patriotas, que irá descobrir a dureza da vida, da guerra, e o peso da palavrado seu país colonizador.
Isso fica logo estabelecido em uma brilhante cena onde um barco com os soldados chega a Moçambique. Sem um local para atracar, o ator João Lagarto, na figura de um comandante fanfarrão avisa os soldados para saltarem sobre os negros, isto para não se molharem. É curioso que basta apenas esta cena para diluir toda uma ideia do forte colonialismo que Portugal pregou em suas colônias, inclusive aqui no Brasil.
O longa procura fazer também que o espectador reflita que tanto Portugal, Alemanha e qualquer outro país europeu que participou da 1ª Guerra Mundial e que foi colonizador praticavam muitos crimes. Isso é destacado na caminhada que o jovem Zacarias vive ao estar perdido, ele descobre que todos são iguais, especialmente quando é instigado por inúmeras adversidades, caindo muitas vezes em pensamentos reflexivos que passam mensagens sobre a realidade do mundo afora, as cenas são apreciadas com uma estética visual arrebatadora e por um trabalho de som que acentua a mecanização do soldado (e dos homens nesta guerra) como um verdadeiro robô que presta serviços para um império colonizador.
A forma como o diretor trabalha com sua equipe de produção nos leva em uma experiência bastante sensorial e cria em todos os momentos (em Zacarias e em nós) um estado permanente de “febrilidade” e “transe”, onde os anacronismos acaba obrigando o espectador a duvidar de alguns momentos vívidos pea mente fragilizada do nosso soldado.
No geral, João Nuno Pinto cria cenas bem envolventes e com paisagens exuberantes de uma bela África, tornando Mosquito um filme seguro, arrojado e com uma mensagem muito clara sobre os podres de ambos os lados.
*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/
Trailer:
Nenhum comentário