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O NARIZ OU A CONSPIRAÇÃO DOS DISSIDENTES | A fantasia de um nariz que não quer cruzar o caminho com Stalin (Crítica) - 44° Mostra SP

O que acontece quando seu nariz está realmente farto e fazendo suas próprias coisas? O conto The Nose, do escritor russo Nikolai Gogol, é apenas uma das referências desta interessante animação que retrata um nariz que se torna independente e coloca seu dono em muitas situações embaraçosas. Com base nisso, três episódios se desenvolvem e são chamados de sonhos, que estão vagamente ligados um ao outro. No primeiro sonho, a encenação operística da história de Gogol está no centro. Além da apresentação em palco que também são apresentados ao público e o processo de criação desta ópera.

Cena do filme animado O Nariz ou a Conspiração dos Dissidentes (The Nose or the Conspiracy of Mavericks) – Foto: Divulgação

O segundo sonho é baseado em um incidente desencadeado por uma carta do escritor Mikhail Bulgakov a Stalin. Na carta, ele reclama da falta de reconhecimento de seu trabalho pelo regime soviético. Stalin então lhe assegura seu apoio. Também é mostrado como Stalin visita a ópera The Nose. Por fim, o terceiro sonho é criticar compositores que gostam de experimentar. O governo soviético afirma claramente como a música deve ser boa e de forma alguma experimental.

O Nariz ou a Conspiração dos Dissidentes (The Nose or the Conspiracy of Mavericks) é um filme de animado elaborado de forma bem encenada e com grande ênfase nos detalhes. A produção é inteligentemente construída e oferece uma grande variedade de informações e com inúmeras citações de arte, cultura, história e política. No entanto, fica alguns certos exageros de vez em quando com algumas cenas ficando sobrecarregadas, o que torna meio difícil para um espectador não acostumado com um filme de arte se navegar na história.

Cena do filme animado O Nariz ou a Conspiração dos Dissidentes (The Nose or the Conspiracy of Mavericks) – Foto: Divulgação

Mas a elaboração é bastante rica em momentos históricos com trechos de filmes, fotos, cartas, retratos de pintura clássica de Sergei Eisenstein e tudo é acompanhado pela música do compositor Dimitri Shostakovich. A direção de Andrey Khrzhanovsky combina habilmente com a animação e aparição dos documentos e gravações reais completam com boa sincronia no que é proposto e o resultado é uma colagem cinematográfica com vários níveis. Além do nível de conteúdo com as três histórias, o papel do artista e do público também é discutido e a liberdade de um artista em trabalhar e conquistar o público é repetidamente colocado em tela.

Com todo o debate e a mistura complexa que permeia todo o filme, cada um dos três episódios também possui características próprias. A primeira parte é a mais fragmentada e a mais exigente. A segunda parte por outro lado tem um tom satírico e mordaz que é perceptível na forma como o regime soviético é caricaturado. A última parte coloca tudo em um contexto sócio histórico e assim forma uma ruptura flagrante entre o Stalin real e animado.

Cena do filme animado O Nariz ou a Conspiração dos Dissidentes (The Nose or the Conspiracy of Mavericks) – Foto: Divulgação

No geral, O Nariz ou a Conspiração dos Dissidentes (The Nose or the Conspiracy of Mavericks) é um filme animado extremamente detalhado com suas inúmeras referências culturais que tornam o filme uma experiência que levanta questões e convida o espectador a pensar sobre o que a película está impondo. Para quem tem um certo conhecimento histórico e cultural irá se ter uma boa facilidade com está obra altamente condensada.

*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/


Trailer:

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